segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Entrevista com o ex-ferroviário Paulinho de Freitas: "Fico triste de ver isso desse jeito"



Dando continuidade aos trabalhos para solicitar a guarda do galpão abandonado da antiga Rede Ferroviária Federal para os agentes culturais de Três Corações, a Viraminas encontrou-se, em janeiro, com o ex-chefe de estação Paulinho de Freitas (foto), aposentado em 1981 e, atualmente, um dos principais entusiastas da memória local da ferrovia. O encontro aconteceu no local, onde o ferroviário relembrou, com saudosismo, os tempos áureos de quando o galpão funcionava a pleno vapor, com seus cerca de 800 funcionários.

Seu Paulinho contou que começou a trabalhar na ferrovia com 14 anos. Naquele tempo, entrar para o quadro de funcionários da Rede era o sonho de muitos jovens. Em seus quase 40 anos de ferroviário, já foi telegrafista, guarda-freios e conferente. A situação atual do galpão e dos prédios do entorno é, para ele, um cenário desolador, que mostra o descaso do poder público e da sociedade para com o patrimônio ferroviário brasileiro. “Fico triste de ver isso desse jeito, mas, sozinho, fica difícil fazer alguma coisa”, comentou. “E, assim, o patrimônio histórico da cidade vai acabando”.

O auge do movimento na estação aconteceu entre as décadas de 1950 e 1980, lembra Paulinho. Três Corações chegou a ter cinco linhas diárias de passageiros. À noite, havia o trem noturno, que ia para Belo Horizonte – uma das linhas mais importantes do Sul de Minas. Segundo Paulinho, falta, de forma geral, o empenho das pessoas para dar uma solução ao abandono do local. Ele acredita que o envolvimento de estudantes na causa e a destinação turística do trecho que passa por Três Corações poderiam fazer parte de um plano de reestruturação do local.



“Aqui era o centro de manutenção da região. As máquinas de todo o Sul de Minas vinham para cá quando precisavam de algum tipo de manutenção”, recordou. Ele conta ainda que, ao redor da área onde hoje está o galpão abandonado, funcionaram vários setores da antiga Rede, em prédios que caíram ou estão prestes a cair, seja pelo vandalismo ou pela ação do tempo. Nas ruínas à direita do galpão (foto), funcionava uma oficina de fundição de ferro, que fabricava e consertava peças grandes, mais grosseiras, que compunham os trilhos e as locomotivas.



Na área de trás do galpão, havia um prédio, já derrubado, onde funcionava uma serraria. Segundo Paulinho, a casa de força (foto acima), também na área de trás, abrigava um enorme transformador, com um motor de 300 cavalos de potência, que gerava energia para toda a oficina da Rede. Alguns detalhes que o ex-ferroviário relatou mostram o quanto o vandalismo resultou na depredação do patrimônio. Dentro do galpão, por exemplo, há um salão onde funcionava o almoxarifado. Um enorme portal, feito de madeira de pinho de riga (foto), está partido ao meio. “Esta madeira é muito resistente, e hoje não se encontra mais dela na natureza. Até isso eles roubaram”, lamentou Paulinho.

A herança dos quase 20 anos de abandono pode ser visível no vandalismo que tomou conta do local. Paulinho conta que, no auge da atividade da Rede em Três Corações, o barulho dos trabalhadores e das máquinas na antiga oficina era ensurdecedor. No entanto, atualmente, o que mais incomoda é o cheiro do lixo espalhado pelo chão e o visual perturbador das pichações.

A entrevista com Paulinho de Freitas veio para sensibilizar a comunidade tricordiana a respeito do abandono do patrimônio ferroviário. A Viraminas está preparando um dossiê, que será encaminhado esta semana ao Ministério Público, solicitando a guarda do espaço para implantação de um centro cultural independente.

1 comentários:

Anônimo disse...

Em cada contato que é feito, seja ele nos grupos,nos bate-papo do cotidiano, percebemos uma indignação da comunidade em relação ao estado em que se encontra o complexo ferroviário de nossa cidade. A entrevista com Paulinho de Freitas só veio ressaltar isso. E isto nos dá mais forças para continuar batalhando pela concessão deste espaço. Precisamos da colaboração de toda comunidade tricordiana para a realização deste projeto. Chegou a hora de "botar a mão na massa"!!! Vamos chacoalhar o esqueleto galera!!!!