sábado, 27 de março de 2010

Hegemonia e contra-hegemonia: quem somos a mídia livre e quem são os inimigos?

Terminou agora há pouco o segundo dia da discussão envolvendo os Pontos de Mídia Livre. Com a presença de mais iniciativas premiadas pelo Ministério da Cultura no edital de mídia alternativa de 2009, o debate foi precedido pela apresentação de experiências. Um relato interessante foi o do grupo de teatro de rua Contadores de Mentira, que lançou sua TV com recursos do Prêmio. O pessoal faz humor nas ruas do interior de São Paulo, com personagens que entrevistas pessoas simples, mas menosprezam a si mesmos e não ao cidadão comum.


Outra iniciativa interessante é a da TV Ovo, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O pessoal relatou a experiência com a criação de uma rádio comunitária que circula nos ônibus da cidade, chegando a 15 mil pessoas diariamente. O conteúdo é produzido por jovens treinados pelo Ponto de Cultura, que se reúnem semanalmente para a reunião de pauta.

Uma iniciativa que eu conhecia superficialmente pela televisão também estava presente: o programa Quiproquó, exibido pela Rede Minas e produzido pela OSCIP Instituto Dubem. Trata-se do único programa jornalístico de televisão que noticia exclusivamente o tema teatro. Além de Minas Gerais, a produção é chega a outros estados como Paraná e Distrito Federal por algumas tevês públicas. Em 2009, mesmo aprovado pelas leis Federal e Estadual de Incentivo à Cultura, o projeto correu o risco de parar pela falta de patrocínio e se manteve graças ao recurso do prêmio de mídias livres.

A discussão que se seguiu após as apresentações foi marcada por algumas dualidades que se estabeleceram. Um exemplo: até que ponto estamos debatendo mídias livres se ficarmos presos na crítica ao modelo tradicional de mídia? Se elencarmos Estadão, Folha, Globo e Abril como os Judas da comunicação e centrarmos o debate em torno da crítica aos métodos e conteúdos destas instituições, estaremos apenas combatendo um modelo e não propondo a construção de um novo.

A questão é um pouco mais complexa, pois, na sociedade altamente mediatizada em que a gente vive, é muito complicado propôr uma nova ação de midialivrismo sem contestar e estabelecer a comparação com a mídia hegemônica tradicional. Porém, aceitar que estamos à margem de uma estrutura centralizada de comunicação é também negar que existe um outro centro, que pode se fortalecer a partir da tão falada articulação em rede.

Cabe destacar que o debate foi marcado pela presença de gente de peso nessa discussão, como a professora Ivana Bentes, da UFRJ, e o jornalista Renato Rovai, da revista Fórum. Este último levantou o discurso otimista, sustentando que o momento de discussão sobre mídias livres é único, algo impensado mesmo no início desta década.

Ao fim da discussão, o articulador do Pontão iTeia, Pedro Jatobá, interviu após a discussão sobre hegemonia e contra-hegemonia. Ele comentou sobre um tema que já levantamos neste blog, sobre a centralização das informações no Google. Ele lembrou que existe uma cláusula nos termos de adesão aos serviços gratuitos, como o Youtube, dizendo que o Google pode se apoderar dos direitos patrimoniais de todas as obras veiculadas no seu megaportal de vídeos. Ou seja, damos o direito a eles de comercializarem as obras que produzimos.

Ficou registrado, por fim, o conflito, pois todos concordaram nos riscos da hegemonia do Google, mas relataram que usam dos serviços gratuitos da empresa, caso inclusive deste blog.

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