terça-feira, 6 de abril de 2010

Imigração, América Latina, Reforma Urbana: Revista Global Brasil convida à reflexão

Durante o encontro nacional dos Pontos de Cultura, ficamos conhecendo muitas iniciativas de gente que faz comunicação e cultura pelo Brasil afora. Várias destas iniciativas jamais conheceríamos se não fossem por eventos como este, que promovem a troca de experiências e conhecimentos. Ponto para o programa Cultura Viva.

Uma das principais características deste programa, criado no governo Lula, é o reconhecimento da interdependência entre Cultura e Comunicação, algo levantando já na primeira Conferência Nacional de Cultura, em 2006. Embora tenhamos um ministério das Comunicações voltado ao interesse corporativo dos grandes conglomerados de mídia, o governo brasileiro estabeleceu, por meio do Ministério da Cultura, um programa de fomento aos veículos de comunicação alternativos - as chamadas Mídias Livres.

Um dos beneficiados pelo programa Cultura Viva foi a revista Global Brasil, produzida pela ONG Universidade Nômade, do Rio de Janeiro. Fiquei com um exemplar, de número 11, com esta capa que vocês estão vendo ao lado. A revista é de 2009, mas poderia ter sido lançada ontem, tamanha a atualidade dos assuntos tratados por ela. Como os artigos são de assuntos que a gente não encontra na mídia tradicional, parece que é tudo novidade. Como sintoma comum da mídia alternativa, a periodicidade varia com o tempo. Não há anunciantes. O projeto gráfico é diferente do que estamos acostumados nas revistonas semanais: o papel não é couchê, não há páginas inteiras dedicadas a notinhas de três linhas, os colunistas tem menor destaque do que o assunto de que tratam.

Os textos são densos, você se embrenha num assunto que vai exigir reflexão e postura crítica. Por exemplo, a reportagem O Brasil, as migrações e a nova lei de estrangeiros trata sobre o tratamento que o governo Lula deu à questão da migração durante as últimas duas gestões do governo federal. Foi criada a Rede de Brasileiros e Brasileiras no Exterior e as Conferências de Brasileiros no Mundo, para compreender os desafios e dar apoio à população tupiniquim que se muda para outros países. O texto fala ainda da imigração seletiva na Europa: mesmo para ocupar postos de trabalhos menos qualificados, o Velho Mundo aceita apenas imigrantes com títulos universitários. Em comparação, o Brasil regularizou recentemente os estrangeiros que fixaram residência no País até fevereiro de 2009, beneficiando de 150 mil a 200 mil pessoas e dando uma resposta a países como os Estados Unidos, que refutam a ideia de abrir as fronteiras para o mundo.

Outro assunto abordado que me chamou à atenção foi o texto de Salvador Schavelzon sobre a nova constituição boliviana. Este tipo de assunto nos é apresentado pela televisão, mas com a abordagem de que se trata de tentativas dos líderes sul-americanos de se perpetuarem no poder. O que a revista nos traz é um panorama mais complexo da situação política boliviana, apresentando o processo de negociação envolvendo o governo do presidente Evo Morales. A partir da nova carta, o País tornou-se um Estado Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário. Isso significa que a pluralidade passa a ser reconhecida como identidade nacional e as regiões terão mais autonomia administrativa. Os povos indígenas também ganham autonomia, inclusive com o reconhecimento legal de suas lideranças.

Um manifesto entusiasmado de Fabiano Nunes sobre a urgência da reforma urbana no Rio de Janeiro e uma crônica de Pedro Moreira Lima sobre a conexão entre o morro e o asfalto também fazem parte do corpo da revista. São textos mais curtos, mas que tampouco deixam de lado a necessidade de reflexão, mas deixam o leitor dar uma respirada num momento mais leve. Todo o texto da edição pode ser encontrada no sítio da revista. Fica a indicação.

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