Artigo - A arte tricordiana

Comunicação. Diálogo. Tornar as palavras inteligíveis. Expressar uma idéia. A arte é também uma forma de se dizer alguma coisa sobre algo. De expressá-lo em palavras, em imagens, em música, dança. Quer seja um momento íntimo ou um evento épico, não importa. A arte é uma narrativa, enfim. E há em Três Corações uma riqueza e diversidade artística e cultural ímpar. De vozes que buscam se expressar e que, apesar das dificuldades, felizmente não se calam. Artistas que, na maioria das vezes, se desdobram heroicamente para expor seu trabalho: nas ruas, nos periódicos, nas garagens ou em pátios da escola. Estão lá, vozes que não se calam.

Neste ano, por exemplo, idealizado de forma independente, admiramos boquiabertos a qualidade exibida no Sarau no Centro de Referência do Professor. Um sucesso estrondoso. Em seu elenco de apresentações: música, peças teatrais, declamação de poemas, danças.

Na Casa da Cultura Godofredo Rangel, com seu importante e incondicional apoio – mas que pode ser ampliado –, também ocorreram eventos diversos: exposição de obras de artistas plásticos, lançamento de Cd (vejam só!) e lançamentos de livros – cinco, nos últimos quatro meses: poesia, romance, crônicas, didáticos. Eventos tais onde textos foram lidos e interpretados, grupos musicais se fizeram presentes, assim como o grande número de tricordianos.

As escolas, estaduais, municipais e particulares, em suas feiras e eventos têm recebido a participação de escritores e atores, mostrando seu trabalho, sua produção, assim como na Livraria Obra-Prima com performances, sobretudo, do ator e escritor Paulo de Barros, em um projeto também independente. Se acessarmos o endereço eletrônico da Academia Tricordiana de Letras, História e Artes – sim, nós temos uma! –, talvez fiquemos espantados com o número de produções genuinamente tricordianas lá constantes.

No teatro da Essa – e posteriormente em outros estabelecimentos da cidade –, tivemos a apresentação do show do talentoso ator Ronildo Prudente. Reclamações se houveram, deveu-se ao fato de os espectadores terem de se espremer, tamanha a presença do público para apreciar ao espetáculo.

Enfim, nota-se que o tricordiano gosta de Arte, de Cultura, que SABE O QUE É BOM! E que esta mesma arte não deve ser vista como privilégio de uma minoria, de uma suposta elite intelectualizada que, cá entre nós, sequer existe. É arte de qualidade para as massas, SIM! Voltada também para a família, pois tratam-se de eventos que transcorrem pacificamente, sem excessos, escândalos, vandalismos ou ocorrências policiais.

A pergunta que não quer calar. Já não está na hora de investir mais neste segmento? Conforme dissemos a pouco, existe a Casa da Cultura, o Teatro da ESA... mas os eventos, tão esporádicos, podem ser ampliados e aperfeiçoados, em muito. Já não é hora de sonharmos um pouco mais alto e obtermos as estruturas adequadas? De termos um Centro Cultural, de termos nosso teatro, nosso local de apresentações de grupos de danças e ou de grupos musicais? Quantos jovens não poderiam ser resgatados da marginalidade através deste estímulo? Embora tenhamos a diversidade e a riqueza, falta-nos melhores condições para seu aprimoramento. Falta-nos estrutura. E como esperar, de braços cruzados, numa atitude do “cada um por si”, que as pessoas possam crescer sozinhas?

Por uma Três Corações que pensa grande, que valoriza seus artistas; idealistas que não vivem num mundo à parte, mas que, ao contrário, são pessoas comprometidas com a cidade, com a sociedade. Cidadãos comuns sim, porém capazes de nos fazer pensar diferente. Pessoas possuidoras de um discurso, de uma voz a ser ouvida, de um diálogo a ser partilhado. Construtores de uma identidade e de uma história. A história de um município chamado Três Corações.

Lutar por esta causa... parafraseando o poeta Drummond. Vamos juntos, de mãos dadas?

Roberto Ferreira

*Texto lido no encontro com candidatos à Prefeitura de Três Corações, em 24/09/08, na Câmara de Vereadores.

* O texto é parte de uma perfomance que contou com a participação de Márcio Tadeu e Paulo César de Barros.