São trechos destas memórias que chegam ao conhecimento do público. De cada entrevista registrada, foram feitos alguns recortes. O objetivo da edição foi valorizar, sobretudo, momentos de alegria que, dentro do mundo isolado a que estas pessoas foram condenadas, elas tiveram a oportunidade de vivenciar. Não se trata de se tentar ‘passar uma borracha’ no preconceito que os ex-hansenianos sofreram, ou fazer-nos esquecer de como a visão de mundo da época reservava aos portadores da doença o isolamento como única forma de controle epidemiológico.
A pretensão é, sim, de mostrar que, apesar do estigma da doença que pairava sobre Santa Fé, os moradores desta comunidade tocaram suas vidas com a esperança de dias melhores e contruíram, dentro do que o destino lhes permitiu, uma trajetória de persistência.
O que pode-se perceber é que, apesar de a maioria deles ter sido internada em Santa Fé contra a própria vontade, os moradores descobriram ali um local de refúgio, onde a todos foi dado o direito de se sentirem iguais. Era o contrário do mundo ‘lá fora’, em que a sociedade os marginalizava e humilhava. Embora afastados da família, em Santa Fé os adultos podiam trabalhar e as crianças, estudar. Fora dali, nada disso era permitido aos hansenianos.
Os momentos registrados por este mutirão irão permitir a você encontrar lugares e situações às vezes atípicos, às vezes comuns, que, espera-se, levem à reflexão. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, já disse o poeta Vinícius de Moraes.
Texto apresentado na exposição Descobrindo palavras que formam pessoas, na ex-Colônia Santa Fé. Conheça nesta e nas próximas postagens os banners que estão na exposição itinerante aberta no último dia 30, em Três Corações.





0 comentários:
Postar um comentário