quarta-feira, 8 de julho de 2009

'Celeste Brandão, o traço da memória', de Adriano Luiz Reis


No final de maio deste ano aconteceu, em Divinópolis, a Conferência Municipal de Cultura. O propósito do encontro foi debater e tomar decisões a respeito do futuro da política pública de Cultura da cidade onde eu nasci. Principalmente para mim, que estou afastado do convívio com minha terra natal há mais de três anos, foi uma experiência ímpar. Mais do que discutir o tema que é meu ganha-pão (a gestão cultural), a Conferência foi um espaço de socialização de idéias, pensamentos, atitudes e pessoas. Algumas dessas pessoas, inclusive, se apresentaram com aquela vontade de produzir cultura que só quem vive da arte sabe como é.

A conferência era divida em grupos de trabalho (GT's). No primeiro dia, participamos do GT de memória e patrimônio. Estávamos reunidos com a professora Batistina Corgozinho, da Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi/Uemg), o presidente do Conselho do Patrimônio Histórico, Ruy Pacheco, representantes do museu histórico da cidade e dois artistas locais. Os assuntos convergiram para a necessidade de um plano museológico no município, que defina o papel do museu da Praça da Catedral e que determine a implantação de outros centros de memória (ferroviária e artística, por exemplo).


Foi neste contexto que ficamos conhecendo o produtor Adriano Luiz Reis. Nós participamos da roda de conversa do GT explicando sobre o movimento de valorização da tradição oral, do qual fazemos parte junto com outras instituições como o Museu da Pessoa e o Grãos de Luz e Griô. Nesse meio tempo, Adriano comenta sobre a dificuldade que encontra em exibir o vídeo que produziu sobre a artista plástica divinopolitana Celeste Brandão. Ele falou sobre os donos das salas de cinema locais, que aderiram à moda multiplex dos shopping centers e não procuram interagir com a produção local.


No penúltimo dia da conferência, Adriano nos entregou o DVD com o documentário, batizado de 'Celeste Brandão - O traço da memória'. O vídeo intercala imagens das telas de Celeste com depoimentos da memória da artista, fotografias e vídeos históricos de Divinópolis e comentários do convidado Osvaldo André de Melo. Todas as sequências nos levam a observar a intrínseca relação entre o traço da pintora e a memória da cidade. As guardas de reinado, o footing, a igreja da Catedral, a estação ferroviária, as quermesses no Santuário, as brincadeiras de rua, o cinema... todas essas lembranças de uma cidade que a modernidade ressignificou estão retratadas na obra de Celeste.



A urbanização da cidade é um tema que o documentário nos faz refletir. Eu me lembro muito bem de quando eu ainda morava onde nasci, no comecinho da Rua Pernambuco, perto do Esplanada e do Porto Velho, quando a igreja Universal ainda era Cine Arte Ideal e todos os pais de alunos do São José eram funcionários da Rede, que já não existe mais. O vídeo de Adriano Reis vai fundo nesta questão. Mostra o que a cidade deixou para trás com a modernidade que provocou, dentre outras coisas, a verticalização do Centro da cidade.


Não que a modernização seja ruim. É evidente que ela tem vários aspectos positivos. O que o vídeo, como toda obra de retratação da memória, provoca é o senso crítico sobre o que aconteceu e acontece. Fica, então, o convite a esta reflexão.

Fotos: Divinópolis antiga e quadro de Celeste Brandão: acervo Lomiranda. Divinópolis atual: daqui.





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