
A conferência era divida em grupos de trabalho (GT's). No primeiro dia, participamos do GT de memória e patrimônio. Estávamos reunidos com a professora Batistina Corgozinho, da Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi/Uemg), o presidente do Conselho do Patrimônio Histórico, Ruy Pacheco, representantes do museu histórico da cidade e dois artistas locais. Os assuntos convergiram para a necessidade de um plano museológico no município, que defina o papel do museu da Praça da Catedral e que determine a implantação de outros centros de memória (ferroviária e artística, por exemplo).
Foi neste contexto que ficamos conhecendo o produtor Adriano Luiz Reis. Nós participamos da roda de conversa do GT explicando sobre o movimento de valorização da tradição oral, do qual fazemos parte junto com outras instituições como o Museu da Pessoa e o Grãos de Luz e Griô. Nesse meio tempo, Adriano comenta sobre a dificuldade que encontra em exibir o vídeo que produziu sobre a artista plástica divinopolitana Celeste Brandão. Ele falou sobre os donos das salas de cinema locais, que aderiram à moda multiplex dos shopping centers e não procuram interagir com a produção local.
No penúltimo dia da conferência, Adriano nos entregou o DVD com o documentário, batizado de 'Celeste Brandão - O traço da memória'. O vídeo intercala imagens das telas de Celeste com depoimentos da memória da artista, fotografias e vídeos históricos de Divinópolis e comentários do convidado Osvaldo André de Melo. Todas as sequências nos levam a observar a intrínseca relação entre o traço da pintora e a memória da cidade. As guardas de reinado, o footing, a igreja da Catedral, a estação ferroviária, as quermesses no Santuário, as brincadeiras de rua, o cinema... todas essas lembranças de uma cidade que a modernidade ressignificou estão retratadas na obra de Celeste.

A urbanização da cidade é um tema que o documentário nos faz refletir. Eu me lembro muito bem de quando eu ainda morava onde nasci, no comecinho da Rua Pernambuco, perto do Esplanada e do Porto Velho, quando a igreja Universal ainda era Cine Arte Ideal e todos os pais de alunos do São José eram funcionários da Rede, que já não existe mais. O vídeo de Adriano Reis vai fundo nesta questão. Mostra o que a cidade deixou para trás com a modernidade que provocou, dentre outras coisas, a verticalização do Centro da cidade.
Não que a modernização seja ruim. É evidente que ela tem vários aspectos positivos. O que o vídeo, como toda obra de retratação da memória, provoca é o senso crítico sobre o que aconteceu e acontece. Fica, então, o convite a esta reflexão.
Fotos: Divinópolis antiga e quadro de Celeste Brandão: acervo Lomiranda. Divinópolis atual: daqui.
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