Por Danielle Terra
Nos dias 26 e 27 de setembro aconteceu na Comunidade do Taquaral, em Três Corações, um evento de exaltação da cultura Afro-Brasileira, o 1° Seminário de Formação do Grupo Tricordiano Cultural Negro Nagô. O evento permitiu ao público conhecer de perto algumas manifestações da Cultura Afro-Brasileira, desvendando e valorizando a história e a importância da influência do povo negro em nosso país e, claro, de nossa cidade.
Durante o Seminário, a historiadora Márcia Lemos Fonseca Barbosa contou de forma muito interessante a historia das comunidades Taquaral e Cota, que segundo ela, foi palco de uma parte da história do negro em Três Corações: “O negro sempre foi e é uma figura presente em nossa vida. O negro tem que saber seu valor e aprender a falar 'não'. Ele veio para o Brasil e aqui foi acostumado a dizer apenas 'sim, senhor'. Na África, tinha uma vida de liberdade e soberania. A escravidão foi ontem e ainda está muito encostada em nós. Talvez por isso ainda exista a submissão do negro pelos brancos. Todos nós, não importa se brancos, pretos ou amarelos, nascemos para sermos amados, e não usados.” Márcia também lembrou de negros ímpares que marcaram sua infância, seja porque ela os conheceu pessoalmente, nas comunidades, ou porque soube de histórias contadas pelos mais antigos: “Minha família é totalmente voltada e envolvida com a história do negro. Em casa tínhamos os camaradas que eram considerados e respeitados como se fossem da família. Alguns cheguei a conviver quando criança, outros sei de ouvir causos. Posso citar alguns como Seu Feliciano, que chegou aos 115 anos, inclusive foi alforriado pelo meu avô, Seu Oracinho, da Fazenda do Lobo, Seu Balbino, camarada da Fazenda da Cota, Madrinha Xanda que foi beneficiada pela Lei do Ventre Livre, entre outras figuras graciosas que passaram por aqui deixando sabedoria para todos nós. Porque o negro é sábio, inteligente. O negro é que nos ensinou grande parte do que sabemos hoje.”
Outras duas presenças que cativaram a todos os presentes foram os professores Mohamed, natural da Guiné Bissau, e Antônio, natural da Somália. Eles falaram da origem do negro e sobre a vinda deles para o Brasil. Mohamed hoje é professor de língua estrangeira em Belo Horizonte. Veio para o Brasil em 2004, fugindo de uma guerra civil. Mohamed figura de imenso carisma, falou de sua trajetória e da importância dos negros se valorizarem. “O negro precisa ter orgulho de sua cultura e origem. Precisa ter orgulho de ser negro. Quando um negro diz que é 'moreninho' está insultando a si próprio por não estar se valorizando. Muitas vezes o preconceito está no próprio negro. Enquanto o negro não se reconhecer como negro, o preconceito permanecerá. Precisamos nos valorizar e acreditar na força que temos.”
O evento também contou com a presença de José Augusto e da professora Sandra, que falaram da cultura e religiosidade do negro no Brasil. Se apresentou também o Professor Cosme, coordenador de Cultura Negra da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da Secretaria Estadual de Combate ao Racismo de Belo Horizonte. Falou sobre a Abolição e suas conseqüências (social, econômica e política) no Brasil. O evento foi encerrado com a Missa dos Negros, celebrada pelo Padre Belmiro.
O Grupo Tricordiano Cultura Negro Nagô ainda é bastante jovem, mas já vem mobilizando eventos em comunidades e escolas. O grupo coordenado por Maria Terezinha de Jesus Marcelino se reuniu a primeira vez na Casa de Cultura em Abril de 2008. A partir daí, começou o trabalho de divulgar a cultura afro. “O grupo agora está em processo de formação, queremos fazer dele uma ONG para facilitar nosso trabalho, para podermos inscrever projetos em editais. Queremos difundir nosso trabalho mostrando a beleza e o valor de nossa cultura”, comentou Terezinha.
Dirceu Alves Filho é também integrante do Grupo Negro Nagô e conta porque o grupo recebeu este nome: “Os Nagôs são uma etnia de grande importância na história dos negros da África”. Nos dizeres de Edison Carneiro, no clássico 'Candomblés da Bahia': "Os nagôs logo se constituíram numa espécie de elite e não encontraram dificuldade de impor à massa escrava a sua religião. Quanto aos negros muçulmanos (malês), uma minoria entre as minorias, que poderiam ser êmulos (rivais) dos nagôs, pelo seu sectarismo, afastavam não só os escravos como toda a sociedade branca".
Informações sobre o Grupo Tricordiano Negro Nagô: 8813-4077, 8404-0117 ou 9976-3071.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
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