terça-feira, 3 de novembro de 2009

Djalma Assis de Oliveira, o seu Nego, Carmo do Cajuru (MG)



Nesta última sexta-feira, nos encontramos com Djalma Assis de Oliveira, mais conhecido como seu Nego. Nascido na zona rural de Carmo do Cajuru, cidade onde ainda reside, ele fabrica nos fundos de casa as caixas que ecoam o som da Folia de Reis e do Reinado na região. Com 77 anos, o artesão conta, com simplicidade típica do mineiro do interior, que aprendeu o ofício ainda criança.

- Aprendi sozinho, com ninguém, comigo mesmo.



Nego lembra que, quando criança, havia na roça onde morava um senhor conhecido por João Quintero, um capitão de guarda de Reinado. Naquela época, o toque do instrumento atiçou a curiosidade de Seu Nego. O problema é que as crianças não podiam bater as caixas.

- Menino não pode por a mão na caixa porque a caixa é benta, dizia seu Quintero.

Seu Nego, então, resolveu que iria começar a fabricar sua própria caixa. Começou com a madeira do Pequi, abundante na época. A primeira levou três meses para ficar pronta. Ele demorou porque, sem prática alguma, quebrava as madeiras sempre que começava a moldar os arcos. O processo era diferente naquele tempo. O artesão vazava uma tora maciça e formava uma caixa com uma única peça. Forrava as aberturas com couro de boi que ganhava de amigos. Atualmente, o modo de fazer se alterou.

- A madeira de pequi acabou, e agora eles não deixam mais fazer com ela.



Na oficina que mantém em casa, seu Nego agora usa ripas de madeira de pinho. Fixa os pedaços com cola de serragem e mantém ao sol por alguns dias, presos a uma armação de ferro. Ele, então, corta duas tiras grandes de madeira óleo vermelho e vai envergando até formar o contorno da caixa, parte que ele considera a mais difícil.

- Eu já tentei ensinar dezesseis pessoas a fazer a caixa. Só duas mulheres que conseguiram fazer.

Os arcos ficam amarrados à caixa durante um dia, para tomar forma. Nesse tempo, o artesão deixa o couro de boi, que compra de fazendeiros da cidade, de molho na água, para ficar mais maleável. No dia seguinte, ele retira temporariamente o arco, que estava se moldando à caixa, para colocar o couro. O acabamento é feito com o cipó murundu e tinta azul.

- O que faz a toada boa é a caixa bem feita e couro de gado novo. Couro de gado holandês nem precisa pôr!

As caixas de Seu Nego são muito conhecidas na região. Ele vende para cidades vizinhas, como São Sebastião do Oeste, Bom Despacho e São Gonçalo do Pará. Boa parte das caixas do Reinado divinopolitano são produzidas por ele. Há também compradores de outros estados, como São Paulo. Sem perder a modéstia, seu Nego lembra que chegou até a exportar algumas para a França.

As caixas produzidas por Seu Nego tem sempre as cores azul e branco (típicas do Reinado) e são entalhadas com uma pequena cruz na lateral. Elas custam em média R$ 130.

- No começo o pessoal falava que eu 'tava mexendo com 'imbondo'. Hoje, quando eles veem o tanto que eu 'tô trabalhando, o povo fala que se soubesse que ia dar dinheiro, aprendia também.


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