terça-feira, 16 de março de 2010

Imperialismo travestido de sétima arte

Muito se fala, por todo lado, da influência de Hollywood ao redor do mundo. No Brasil, nos acostumamos a assistir filmes dublados na televisão e legendados nos cinemas. Com efeitos especiais perfeitos, sentimentalismos universais e narrativas que encantam todas as gerações, o cinema produzido nos Estados Unidos ganhou o mundo há várias décadas. Talvez nenhuma outra arte criada no mundo seja tão convincente na maneira de contar histórias quanto o cinema de Hollywood.

É evidente que, por trás das telas, há um jogo de interesses políticos, militares, imperialistas e colonialistas. Os norte-americanos sabem muito bem que, detendo o monopólio da distribuição de filmes, como fazem atualmente, conseguem controlar praticamente tudo o que se vê em qualquer país do mundo. Assim, constroem contextos, criam modismos, erguem mitos, fortalecem opiniões. Nos fazem enxergar o mundo pelos olhos deles.

O ex-secretário da Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti, sempre comenta em suas palestras a relutância dos Estados Unidos em aceitar, nas discussões da Unesco, o desejo dos diversos países de aprovar medidas para a proteção e promoção da diversidade cultural. Não é à toa. Enquanto o mundo enxerga a invasão cultural do cinema norte-americano como uma afronta à soberania cultural dos países, os Estados Unidos defendem que filmes são produtos como qualquer outro, e sua comercialização deve ser gerida pelas regras do livre comércio. Pura balela, claro.

A influência política do cinema hollywoodiano é o tema central do documentário CTRL-V :: Video Control, dirigido por Leonardo Brant, do Cultura e Mercado. Com diversas entrevistas envolvendo estudiosos do tema na América Latina e nos Estados Unidos, o vídeo amarra de forma redonda e precisa as táticas dos estúdios e do governo estadunidense para garantir os meios de controlar o mercado mundial de cinema, exercendo assim seu poder imperialista. Além de esmagarem as produções locais, os filmes de Hollywood levam a outros países visões unilaterais que explicam guerras, intolerâncias, consumismos, ideologias.

Este vídeo é para assistir e pensar.


Ctrl-V::VideoControl - PARTE 1 (PT) from Ctrl-V::VideoControl on Vimeo.

3 comentários:

Brenda Ligia disse...

Viraminas é o que há!

Lelo de Brito disse...

Oi pessoal da Viraminas,

A imagem em movimento foi a arte do século XX, sem dúvida, e o cinema americano tomou a dianteira no proveito dessa linguagem relativamente nova .
Porém, enquanto mercado e como de resto todo os E.U.A, o cinema do Tio Sam está perdendo força. Avatar, maior sucesso de bilheteria de todos os tempos, se não me falha a memória (os hábitos da juventude acabaram com ela) foi batido em renda e público por um filme Chinês baseado no filósofo Confúcio (que sempre foi combatido pelo regime comunista).
Em breve teremos uma indústria chinesa, com seus heróis voadores de sobrancelhas brancas, competindo com o cinema americano, brigando com a distribuição que está nas mãos yankees, e isso é bom.
Já no ano passado, o Oscar, esse enorme fetiche, deu sinais das pressões mundiais sobre a cultura americada, com uma premiação que contemplou obras bastante autorais (as pessoas estão cansadas de pessoas voando pela janela, tiroteios e carros explodindo). A premiação deste ano eu não acompanhei.
De outra parte, além de criticar os caras, devemos pensar também sobre a nossa cinematografia. Eu acho que o cinema brasieiro é uma das sete maravilhas do mundo, não o Cristo Redentor - sou favorável à demolição daquela interferência horrível, messiânica, na paisagem carioca. O cinema brasileiro foi muito massacrado quando, ao seu modo, se desenvolvia. O guardiões da moral e dos bons costumes não vacilaram em execrar a pornochanchada quando ela, apesar de carambolesca, desenvolvia uma indústria cinematográfica e, por exemplo, fundava uma tradição de diálogos, de linguagem brasileira genuina, nada literária. Saiu a pornochanchada de cena e seu lugar nos cinemas e locadoras foi ocupadao por um genêro americano (então novo), pornô. E naquele então ninguém desconfiaria que a pornochanchada retornaria ao horário nobre dos brasileiros na formato de telenovela global (com a diferença de que, na tv, ela não desenvolve um indústria, mas sim três ou quatro empresas, nas quais os artistas tem muito menos voz que no cinema, mesmo o comercial.)
Nosso senhor redentor, descolonizai o cinema brasileiro - ou então mataremos o salvador para nos salvar da salvação!
Abraço,
Renato.

Paulo Morais disse...

Olá Renato,

Assino embaixo. O cinema brasileiro é único. Nosso cinema foi unicamente inoperante quando Fernando Collor decidiu que o mercado deveria ser regido por ele próprio e extinguiu todos os benefícios públicos para financiar as produções. Então, se também não me falhe a memória, 1991, o único ano, desde o cinema novo de Glauber Rocha, em que o Brasil não produziu nenhuma obra cinematográfica - e a gente ainda acha que o confisco das poupanças foi a maior barbeiragem daquele governo!

De lá para cá, o cinema voltou a ressurgir e agora vivemos um dilema. A Globo Filmes entrou pra valer no mercado e está emplacando nas telas os blockbusters novelísticos de Daniel Filho, Jorge Fernando, Jayme Monjardim e companhia. Nosso cinema autoral, em compensação, vem decaindo em número de produções, uma vez que os investimentos estão migrando para estas fórmulas americanas fáceis de se chegar na massa.

A europa tem bons exemplares de como produzir cinema de qualidade sem cair nas facilidades americanóides de quinto escalão nem ficar preso a produções excessivamente autorais que não emplacam num público mais amplo.

Essa discussão vai longe e, por mais pessimistas que sejam as previsões, a arte sempre ganhará.

Um abraço e continue visitando o blog!