quarta-feira, 19 de maio de 2010

Colônia São Francisco de Assis, em Bambuí, se prepara para registro da memória oral

Há exatamente uma semana, estivemos em Bambuí, no Oeste de Minas Gerais, para apresentação de uma oficina de registro de Memória Oral. O local foi a Casa de Saúde São Francisco de Assis, que também abrigou uma colônia para portadores de hanseníase, a exemplo da Colônia Santa Fé, em Três Corações. O objetivo foi instruir funcionários da casa para organizarem um mutirão de registro de memória dos moradores, a exemplo do que aconteceu no Sul de Minas em 2008.



Na terça-feira, chegamos e pudemos conhecer um pouco do espaço. Tem várias semelhanças com a Casa de Saúde de Três Corações: o local tem clima agradável, é silencioso, cercado de muita vegetação e fica na zona rural do município. Há a rua onde moravam os hansenianos (acima), que, apesar de terem arquitetura absolutamente modular (todas as casas têm o mesmo desenho), chama a atenção pela conservação das fachadas, pintadas cada uma de uma cor.



Os pavilhões (acima) estão no mesmo estilo de Três Corações: em sua maioria, abandonados, com os telhados caídos, vidros quebrados e espaços amplos vazios. Dos mais de 15 pavilhões no local, apenas quatro ou cinco foram restaurados pela Fundação Hospitalar e ainda funcionam como enfermaria ou moradia. O mais bem restaurado é onde se instalou uma escola de ensino fundamental. Ali netos de ex-hansenianos que ainda moram no local estudam (abaixo), assim como outras crianças e adolescentes da zona rural. Foi uma boa alternativa para revitalização do espaço.




A grande diferença entre São Francisco de Assis e Santa Fé está numa outra parte da ex-colônia, conhecida pelos funcionários como Vila Nova. Ali moram descendentes dos antigos moradores da colônia, que fundaram um bairro aparentemente mais bem-estrurado do que muitos lugares que conhecemos em cidades do interior. Pode-se dizer que ali se fundou um distrito da cidade, com  campo de futebol, quadra de esportes, lan-houses, igrejas católica e evangélica, centro espírita, pontos de ônibus, antenas parabólicas nas casas, meninos jogando bola na rua e até passeando de mini-buggy (acima).


Até onde pude me informar, o local passa por uma questão controversa que envolve inclusive muita especulação política. É que as casas estão instaladas em áreas do governo e não pagam impostos nem mesmo contas de luz e água. Existe uma discussão em torno de ceder as escrituras das casas aos moradores, até mesmo como um direito de cidadania em virtude do que as famílias de hansenianos sofreram no passado.

Porém, o processo de repasse das casas para os moradores esbarra numa questão impopular: se transferidos os imóveis, seus donos passarão a arcar com as despesas. Embora seja um direito das pessoas, este processo terá um preço para elas. Para os políticos, fica o preço eleitoral da medida. Esta é apenas uma das questões políticas que envolvem as ex-colônias. Outras são o tombamento histórico dos prédios, que, por questões óbvias, deveria vir agregado a um projeto de revitalização. Porém, pouco se fala ou se propõem ações concretas para ressignificar os lugares. Fica parecendo que, para o poder público (incluindo prefeituras, Estado e União), é melhor deixar a coisa ruir por completo do que reconstruí-los como espaços de cidadania.

Da parte da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), há a preocupação em encontrar parcerias com a sociedade civil para dar novos usos às ex-colônias, como foco no meio ambiente e na memória. Os espaços das ex-colônias tem todas as características para funcionarem como centros de formação e conscientização nestas duas áreas. A sociedade civil poderia atuar entrando nestes locais e oferecendo aquilo que, pelo peso do Estado e seus conhecidos entraves burocráticos, fica difícil acreditar que sairá do papel sem que a comunidade se mobilize.

É aí que a Viraminas e o Museu da Oralidade entram na história. O projeto do Mutirão de Histórias de Vida, em que registramos a memória oral de 17 moradores de Santa Fé, vai ser o modelo adotado pela FHEMIG para incentivar a releitura da memória das Casas de Saúde. A partir de funcionários e voluntários, levanta-se a memória dos ex-hansenianos, reconhece-se valores e anseios da comunidade e pensam-se alternativas para a ressignificação local.



A oficina, realizada na quarta-feira, veio para mobilizar os funcionários. E o resultado foi positivo. Bastante interessados na proposta e com vontade de sair a campo, vários deles estiveram na apresentação. O foco foi a metodologia de história oral: conceitos de oralidade, como elaborar um projeto de memória, implicações sociais do registro, mobilização e ação comunitária.

Em junho, a segunda ex-colônia a ser visitada pelo Museu da Oralidade será a Padre Damião, em Ubá, na Zona da Mata mineira.

1 comentários:

Unknown disse...

Olá, sou Teresa Oliveira, estive em abril fazendo oficina em Três Corações e Bambuí sobre a indenização dos Filhos Separados pelo isolamento Compulsório. Contem comigo!
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