quarta-feira, 31 de março de 2010

Pontos de Cultura mineiros batalham pelo funcionamento da rede


Ontem pela manhã, aconteceram no Centro Cultural Dragão do Mar os encontros estaduais dos Pontos de Cultura, parte integrante do 3º Fórum Nacional dos Pontos de Cultura. Minas Gerais não ficou no Centro propriamente dito, mas num espaço cultural privado, que funciona em mais um belo edifício histórico com fachada restaurada.


É curioso que, no quarteirão que rodeia o Dragão do Mar e em algumas avenidas próximas, os prédios históricos estão todos em excelente estado de conservação. Porém, andamos alguns quarteirões adentro do bairro e vimos que várias outras construções que mereciam restauração, mas, como não ficam em locais movimentados, estão caindo aos pedaços. Apenas uma observação.

Antes de entrar no conteúdo do grupo de trabalho (GT) de Minas Gerais, vale destacar que, pela metodologia do Fórum, cada encontro estadual tem autonomia para decidir sua forma de funcionamento. Para nossa sorte, o pessoal da delegação se reuniu e elaborou previamente uma pauta para pontuar as discussões. Algumas delegações não tiveram esta preocupação e a discussão acabou descambando para rumos não muito objetivos.

O debate começou pela apresentação da Comissão Estadual dos Pontos de Cultura, responsável pela articulação entre os pontos mineiros e a representação dos conveniados junto aos órgãos gestores (Secretaria de Estado e Ministério da Cultura). Minas Gerais tem 164 pontos, sendo que 100 deles foram aprovados no último edital e ainda aguardam o conveniamento, processo tocado a passos de tartaruga pelo Governo de Minas. Para formação da comissão, o Estado foi dividido em 8 regiões (Sul, Zona da Mata Ampliada, Central e Oeste, Metropolitana, Triângulo e Alto Paranaíba, Norte e Noroeste, Vale do Rio Doce e Jequitinhonha e Mucuri). Cada uma possui dois representantes na comissão.

Ao final, passamos para a discussão das propostas que levaríamos para a plenária do fórum nacional. Quatro propostas tinham sido encaminhadas da plenária regional que aconteceu em Belo Horizonte. Uma delas foi derrubada: a que propunha que as comissões de pontos de cultura dos outros estados também regionalizassem as escolhas de seus representantes, a exemplo do que fez Minas. No lugar desta, entrou a proposta que levantamos a partir do encontro de Mídias Livres: garantia de internet pública, gratuita e de banda larga para todos os Pontos de Cultura do Brasil.

À noite, participei do GT de Patrimônio Imaterial, Culturas Tradicionais e Indígenas. Uma lástima. Ao contrário do GT de Minas Gerais, não havia uma pré-programação da discussão. A plenária abusou do direito de usar questões de ordem, questões de esclarecimento e questões inúteis para invalidar a discussão.

Teias da Oralidade #9



"Sou artista plástica, sou humilde, mas atrevida. Humildade é virtude, mas não pode ser subserviente, humildade não é sinônimo da cabeça baixa. É lindo quando as pessoas vêm de baixa e cresce. Nosso Ponto de Cultura é o Linha na Serra. Não foi nossa associação que escreveu a gente do edital de pontos de cultura, foi a secretaria de cultura da nossa cidade. Agora eles querem usar nosso ponto como plataforma política. Nossa associação tem que ser autônoma. Eu quero que meus associados tenham o que é necessário. O direito do povo é o direito do povo e eles não sabem se defender.
Meu nome é Ana Pimenta, eu ardo, mas tempero."

Depoimento de Ana Pimenta - Ponto de Cultura Linha da Serra - Pacuti (CE)

Teias da Oralidade #8




"Sou professora do ensino médio, nunca estudei na universidade e acho isso muito bom, fiz outras coisas mais prioritárias. Trabalho com os índios tremembé, a arte deles é muito linda. Nosso ponto dá oficinas nas escolas municipais e estaduais do Ceará contando as histórias dos povos indígenas, mostrando sua arte, cultura e dança, como a dança do Torém. A proposta é fazer uma reflexão sobre a questão indígena. Aqui no Ceará as crianças desconhecem seus povos indígenas. O Ponto de Cultura ampliou a visibilidade dos índios tremembés. Antes, eles atuavam só nas comunidades deles, agora, eles atuam nas escolas, universidades. Sou missionária, menos católica, mais indígena."

Depoimento de Maria Amélia - Ponto Cultura Nossos Saberes, Nosso Futuro - Fortaleza

segunda-feira, 29 de março de 2010

Teias da Oralidade #7



Sou artista visual e designer. Faço parte do Ponto de Cultura Somos Comunicação, Saúde e Sexualidade. Somos o primeiro ponto de cultura LGBT do Rio Grande do Sul. A SID (Secretaria da identidade e Diversidade Cultural) e as ações do Cultura Viva botaram luz sobre o segmento LGBT. Antes a identidade artística da cultura LGBT ficava restrita aos guetos, hoje começa a gerar uma reflexão sobre o fazer cultural deste segmento.

Depoimento de Sandro Ka - Ponto de Cultura Somos Comunicação, Saúde e Sexualidade

Teias da Oralidade #6


"Sou benzedeira, parteira, lyalorixá e mestre griô. Meu terreiro é o Ilê Axé Oyá Togum.
A primeira imagem que tenho deste patrimônio é um bando de mulheres pretas velhas, vestidas de branco, ensinando para as crianças as histórias dos orixás. Tudo que aprendi foi com minha avó Bernardina. Nosso Ponto de Cultura é o Coco de Umbigada - Ensinamentos de Mãe Preta. Há 20 anos, quando o povo nem sabia o que era ponto de cultura, nós já éramos ponto de cultura.
Eu acho que os pontos de cultura são uma grande articulação. Nós podemos mudar as diretrizes do país. Nós podemos mudar a história deste país."

Depoimento de Mãe Lúcia de Oyá - Ponto de Cultura Coco de Umbigada - Ensinamentos de Mãe Preta.

sábado, 27 de março de 2010

Hegemonia e contra-hegemonia: quem somos a mídia livre e quem são os inimigos?

Terminou agora há pouco o segundo dia da discussão envolvendo os Pontos de Mídia Livre. Com a presença de mais iniciativas premiadas pelo Ministério da Cultura no edital de mídia alternativa de 2009, o debate foi precedido pela apresentação de experiências. Um relato interessante foi o do grupo de teatro de rua Contadores de Mentira, que lançou sua TV com recursos do Prêmio. O pessoal faz humor nas ruas do interior de São Paulo, com personagens que entrevistas pessoas simples, mas menosprezam a si mesmos e não ao cidadão comum.


Outra iniciativa interessante é a da TV Ovo, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O pessoal relatou a experiência com a criação de uma rádio comunitária que circula nos ônibus da cidade, chegando a 15 mil pessoas diariamente. O conteúdo é produzido por jovens treinados pelo Ponto de Cultura, que se reúnem semanalmente para a reunião de pauta.

Uma iniciativa que eu conhecia superficialmente pela televisão também estava presente: o programa Quiproquó, exibido pela Rede Minas e produzido pela OSCIP Instituto Dubem. Trata-se do único programa jornalístico de televisão que noticia exclusivamente o tema teatro. Além de Minas Gerais, a produção é chega a outros estados como Paraná e Distrito Federal por algumas tevês públicas. Em 2009, mesmo aprovado pelas leis Federal e Estadual de Incentivo à Cultura, o projeto correu o risco de parar pela falta de patrocínio e se manteve graças ao recurso do prêmio de mídias livres.

A discussão que se seguiu após as apresentações foi marcada por algumas dualidades que se estabeleceram. Um exemplo: até que ponto estamos debatendo mídias livres se ficarmos presos na crítica ao modelo tradicional de mídia? Se elencarmos Estadão, Folha, Globo e Abril como os Judas da comunicação e centrarmos o debate em torno da crítica aos métodos e conteúdos destas instituições, estaremos apenas combatendo um modelo e não propondo a construção de um novo.

A questão é um pouco mais complexa, pois, na sociedade altamente mediatizada em que a gente vive, é muito complicado propôr uma nova ação de midialivrismo sem contestar e estabelecer a comparação com a mídia hegemônica tradicional. Porém, aceitar que estamos à margem de uma estrutura centralizada de comunicação é também negar que existe um outro centro, que pode se fortalecer a partir da tão falada articulação em rede.

Cabe destacar que o debate foi marcado pela presença de gente de peso nessa discussão, como a professora Ivana Bentes, da UFRJ, e o jornalista Renato Rovai, da revista Fórum. Este último levantou o discurso otimista, sustentando que o momento de discussão sobre mídias livres é único, algo impensado mesmo no início desta década.

Ao fim da discussão, o articulador do Pontão iTeia, Pedro Jatobá, interviu após a discussão sobre hegemonia e contra-hegemonia. Ele comentou sobre um tema que já levantamos neste blog, sobre a centralização das informações no Google. Ele lembrou que existe uma cláusula nos termos de adesão aos serviços gratuitos, como o Youtube, dizendo que o Google pode se apoderar dos direitos patrimoniais de todas as obras veiculadas no seu megaportal de vídeos. Ou seja, damos o direito a eles de comercializarem as obras que produzimos.

Ficou registrado, por fim, o conflito, pois todos concordaram nos riscos da hegemonia do Google, mas relataram que usam dos serviços gratuitos da empresa, caso inclusive deste blog.

Teias da Oralidade #5



"Desde pequenininha sou ligada na cultura. A minha infância foi com muito brincadeira de roda. A gente vai sendo mordido pelo bichinho da cultura. Sou educadora e nosso ponto tem o objetivo de identificar, registrar e valorizar o patrimônio imaterial das rezadeiras e raizeiros da Comunidade de Ilumiar, de Nova Friburgo.
O ponto de cultura é um grande desafio pessoal e coletivo, vai se ampliando igual uma teia mesmo. Esse é o primeiro encontro que participo e estou impressionada, vai muito além do que eu imaginava. É igual ao que o Célio Turino falou, é potencializar com afeto e a cultura popular é um exemplo disso."

Maria Luiza - Tesouros da Terra - Nova Friburgo (RJ)

Teias da Oralidade #4






"Sou aldeia Itaquatiara, nação Tabajara. Lá são 25 famílias, 244 pessoas, com as criancinhas tudo regitradinhas. Nossa terra fica entre o Ceará e o Piauí. Há mais de 300 anos fomos tudo expulsos de lá. Cada um foi para um canto. Agora nóis tá tentando resgatar nossas origens. Nóis tem o direito a terra para resgatar nossas origens, há mais de 5 anos tamo reivindicando isso, mas falta o papel para ter nossa terra de volta. Vamo ver se agora que a gente é ponto de cultura fica mais fácil."



Seu José Guilherme - Redes Indígenas - Piripiri (PI)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Teias da Oralidade #3

“Sou músico, trabalho com cultura popular. O coco é dança, ritmo, canto... Desde de criança tô dentro do coco. Quando criança via os velhos fazendo seu coco, mas não sabia dançar e tocar os instrumentos. Começava a pular, assimilando a batida, observando os mestres. Já adulto, comecei a pesquisar outros ritmos e criamos nossa própria batida. Graças, hoje tem uma nova continuidade, com mais apoio do governo, maior incentivo e isso enriquece as culturas.”

Quinho Caetés - Ponto de Cultura Coco de Umbigada - Olinda

Teias da Oralidade # 2


"Nós trabalhamos com resgate e registro das manifestações culturais das comunidades de Terreiros. Teatro, dança, música, tradição oral. Nosso objetivo é a inserção destas comunidades na cultura da cidade. Antes de virar Ponto de Cultura eles não participavam da vida social e cultural de Itabuna."

Luis Dantas (Lula) do Ponto Cultura em Ação - Itabuna

Mídias Livres e Cultura Digital: querem retroceder nos avanços da internet



Participei hoje cedo do encontro de mídias livres e cultura digital da Teia. O debate começou já engajado, objetivo e com muita lenha na fogueira, deixando os ânimos já agitados. Algumas observações dos participantes merecem destaque. A começar pelo colega Marcelo Branco, da Associação Software Livre, que levantou a bandeira da liberdade na rede.

Conforme ele informou pelo twitter, países liderados pelos Estados Unidos e pelo Japão estão se movimentando para construir um acordo comercial em nível mundial que dê garantias contra pirataria, envolvendo limitações a compartilhamento de arquivos em redes P2P. Querendo ou não, trata-se de uma versão globalizada do famigerado AI-5 Digital, aquele projeto de lei do Senador Azeredo que proíbe práticas corriqueiras na rede e burocratiza o acesso à internet.

Sob a máscara do combate à pirataria se esconde, na verdade, um temível lobby da indústria do copyright que visa ceifar a possibilidade de criação de novas redes de fruição e distribuição de bens culturais. Sim, pois a base da indústria cultural (leia-se Hollywood, adjacências) não está no domínio da produção de filmes, mas, sim, no monopólio da distribuição, que garante ao mesmo filme ser exibido em São Sebastião do Paraíso, Luanda e Bangladesh simultaneamente.

Então os hackers criam uma rede de computadores contra-hegemônica que se espalha de forma exponencial pelo mundo inteiro, facilitando as comunicações e o intercâmbio cultural. A base do sucesso dessa rede está na facilidade de se copiar, de compartilhar dados e informações. O que fazem os barões da indústria cultural? Tentam criar mecanismos para barrar o que a rede tem de mais fantástico: a facilidade de compartilhamento. É ou não é um contrassenso? Por que retroceder num processo que vem fazendo tão bem para a humanidade?



O tom do debate correu também para o Plano Nacional de Banda Larga, o qual vem sendo achincalhado pela grande mídia brasileira, reconhecidamente adepta do lobby do copyright. A revista Época, por exemplo, publicou recentemente uma "matéria" comparando a estratégia de federalização de redes de fibra ótica pela Telebrás com o ressurgimento de Jason e Fred Kruegger.

Por trás do discurso canhestro está o interesse das empresas de comunicação, que vêm podando por meio de filtros o uso de tecnologias de voz sobre IP (como o Skype) e de compartilhamento de arquivos em P2P (como torrents e emule). Essas empresas simplesmente criam barreiras para os usuários, piorando a qualidade da conexão de Voip. Dizem que é para garantir a qualidade da conexão, mas, evidentementemente, estão tremendo nas bases, com medo de que o acesso livre à internet reduza os ganhos bilionários que têm com as vergonhosas tarifas de celulares.

Quem assina internet via rede 3G, por exemplo, pode checar que, no contrato, está expresso que o usuário não tem direito a usar tecnologia de Voz sobre IP nem compartilhamento de arquivos por torrent? Qual é a briga, então? A garantia da neutralidade da rede: nenhum servidor poderá definir critérios mercadológicos para podar uma ou outra tecnologia de comunicação. A rede deve ser livre, sem filtros.

Atualização às 20h: à tarde, o debate foi dividido. O pessoal de Mídias Livres foi separado da galera do Cultura Digital. O foco do debate mudou um pouco, passando das políticas públicas de internet, mais amplo, para o tema do papel das mídias alternativas no Brasil, mais específico. A roda contou com representantes do MinC, que ressaltaram o fato de o Brasil ser o único país (pelo que se sabe) a contar com políticas públicas de fomento (incentivo financeiro) a mídias livres.

Discutimos também o papel dos novos meios como incentivador da leitura crítica da mídia pela comunidade. Muitos blogs ditos alternativos criticam a mídia tradicional, mas fazem isso pautando-se pela própria grande mídia, repercutindo diariamente o que ela informa. Em ano eleitoral, este ponto fica ainda mais visível. Ressaltamos o fato de os pontos de mídia livre terem que se dedicar à cobertura das construções de políticas públicas, inclusive propondo temáticas que suscitem a discussão destas políticas.

Teias da oralidade #1


"Fazemos rede de travessa, crochê. Isso vem de família, é tradição de família. Desde criança via mamãe trabalhando em casa, ela já fazia a rede. Fui crescendo, vendo e aprendendo com a família. Depois que virou Ponto de Cultura teve mais facilidade, foi melhor para as vendas, teve oportunidade de levar nossas artes para fora."

Rita de Cássia - Ponto de Cultura Artistas da Vida - Itarema (Ceará)

Orquestra, Maracatu e Fagner dão a largada para a Teia 2010


A abertura oficial do Encontro Nacional dos Pontos de Cultura (Teia 2010) só acontece nesta sexta, mas, na noite de ontem, a agitação contagiou o Centro Cultural Dragão do Mar, numa animada recepção para os delegados de todo o Brasil. O dia foi muito cansativo por conta da viagem. A delegação mineira chegou ao aeroporto de Confins às 10h e desembarcou na capital cearense depois das 16h.



Assim que chegamos, demos entrada no hotel e depois seguimos para o local do evento. De cara, chama à atenção a beleza do centro cultural, que em 2010 comemora dez anos de inauguração. Localizado no centro histórico da cidade, o Dragão do Mar mistura fachadas restauradas de casarões históricos (foto acima), onde funcionam restaurantes, ateliês de arte e alguns serviços, com construções modernas, que abrigam um planetário, auditórios, cinemas, exposições, livrarias e uma passarela que atravessa a avenida e dá num teatro de arena bem amplo.

Ainda durante o dia ficamos conhecendo o pessoal do Ponto de Cultura Emcantar, de Uberlândia. A Ana Paula, que veio representando os uberlandenses, chegou a Fortaleza por conta própria. Ela trouxe um kit contendo CD e vídeo para comercializar no evento. O conteúdo são canções e brincadeiras populares infantis. Ela comentou que até gostaria de distribuir o material gratuitamente. Mas, como a associação também aguarda o fim da novela do conveniamento, a opção foi vender o material para arrecadar fundos.



Na praça do Centro Dragão do Mar, encontramos uma banca com exemplares de literatura de Cordel. A tradicional manifestação popular, que está em processo de registro como patrimônio imaterial brasileiro, podia ser levada para casa ao preço de dois reais o exemplar (ou três por cinco, opção que escolhemos). Levamos as divertidas histórias Seu Lunga - O Rei do Mau Humor, O Dia em que Lampião Chegou ao Inferno e Histórias de João Grilo, impressas pela Editora Tupynanquim.

Na noite de ontem, quem abriu a mostra artística foi a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, daqui do Ceará. Ao lado do grupo Irmãos Aniceto, que tocam música de raiz, o espetáculo tocou música popular com jeitão erudito e música erudita com jeitão popular, de um jeito que agradou a todo mundo. Os Irmãos Aniceto são uma simpatia, tocam pífanos (flautas rústicas de madeira) e caixas feitas de couro de boi. O evento era aberto e muita gente da cidade compareceu para acompanhar a festa da diversidade cultural.

A segunda apresentação foi de vários grupos de Maracatu, que celebraram a coroação de suas rainhas. O dia 25 de março é o dia do Maracatu. A apresentação marcou pelo ritmo animado dos tambores e chocalhos, mais agitados do que os que estamos acostumados em Minas, dos Reinados e folias de reis. O figurino também foi muito bem produzido.

Em seguida, agitou a plateia o cantor cearense Fagner, que ressaltou os trabalhos sociais que realiza por meio da fundação que leva seu nome. A Teia 2010 começa, então, nesta sexta, com seminários que debaterão o programa Cultura Viva, com debates e reflexões. O grande ponto de reflexão deve ser a continuidade do programa como política de Estado depois das eleições presidenciais de outubro. Acompanhem a cobertura por este blog.

terça-feira, 16 de março de 2010

Imperialismo travestido de sétima arte

Muito se fala, por todo lado, da influência de Hollywood ao redor do mundo. No Brasil, nos acostumamos a assistir filmes dublados na televisão e legendados nos cinemas. Com efeitos especiais perfeitos, sentimentalismos universais e narrativas que encantam todas as gerações, o cinema produzido nos Estados Unidos ganhou o mundo há várias décadas. Talvez nenhuma outra arte criada no mundo seja tão convincente na maneira de contar histórias quanto o cinema de Hollywood.

É evidente que, por trás das telas, há um jogo de interesses políticos, militares, imperialistas e colonialistas. Os norte-americanos sabem muito bem que, detendo o monopólio da distribuição de filmes, como fazem atualmente, conseguem controlar praticamente tudo o que se vê em qualquer país do mundo. Assim, constroem contextos, criam modismos, erguem mitos, fortalecem opiniões. Nos fazem enxergar o mundo pelos olhos deles.

O ex-secretário da Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti, sempre comenta em suas palestras a relutância dos Estados Unidos em aceitar, nas discussões da Unesco, o desejo dos diversos países de aprovar medidas para a proteção e promoção da diversidade cultural. Não é à toa. Enquanto o mundo enxerga a invasão cultural do cinema norte-americano como uma afronta à soberania cultural dos países, os Estados Unidos defendem que filmes são produtos como qualquer outro, e sua comercialização deve ser gerida pelas regras do livre comércio. Pura balela, claro.

A influência política do cinema hollywoodiano é o tema central do documentário CTRL-V :: Video Control, dirigido por Leonardo Brant, do Cultura e Mercado. Com diversas entrevistas envolvendo estudiosos do tema na América Latina e nos Estados Unidos, o vídeo amarra de forma redonda e precisa as táticas dos estúdios e do governo estadunidense para garantir os meios de controlar o mercado mundial de cinema, exercendo assim seu poder imperialista. Além de esmagarem as produções locais, os filmes de Hollywood levam a outros países visões unilaterais que explicam guerras, intolerâncias, consumismos, ideologias.

Este vídeo é para assistir e pensar.


Ctrl-V::VideoControl - PARTE 1 (PT) from Ctrl-V::VideoControl on Vimeo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Folha do Sul: Memórias Arquitetônicas de Três Corações

Reportagem do Jornal Folha do Sul, de Três Corações, sobre o novo projeto da Viraminas. Quem assina é a repórter Danielle Terra, que também redige o blog Soletração da Terra.


Álvaro Jatobá e Mônica Furtado (foto), coordenadores do Projeto Memórias Arquitetônicas de Três Corações, mostram a importância de empresas locais patrocinarem projetos culturais aprovados pela Lei Estadual de Incentivo a Cultura e contam do que se trata esse trabalho.

Memórias Arquitetônicas é o mais recente projeto da Viraminas Associação Cultural aprovado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Desde 2007, a Viraminas vem mostrando a cara em várias cidades mineira,s provando que é possível levar às comunidades o resgate da identidade cultural e ambiental. O projeto pretende valorizar a identidade arquitetônica de Três Corações através de um livro ilustrado, retratando a arquitetura histórica da cidade. Álvaro Jatobá, arquiteto e coordenador do projeto, entende que Três Corações possui uma bela arquitetura de importante valor histórico e turístico e ressalta: “A arquitetura de Três Corações vem sofrendo constantes perdas. São vários os casarios sendo derrubados para dar lugar a prédios sem características locais.”

Mônica Furtado, também arquiteta e pesquisadora do projeto, explica: “Em se tratando de arquitetura, é necessário um duplo olhar. De um lado, a busca do desenvolvimento através de novas tecnologias e materiais empregados nas construções, buscando novos conceitos e acompanhando o processo evolutivo da construção civil. De outro lado, a conscientização para se preservar os patrimônios arquitetônicos históricos, pois eles guardam a memória, não de um indivíduo apenas, mas de todo um grupo, uma sociedade que surgiu e cresceu ali. É possível entrar em consenso entre o passado, presente e futuro.”

O Projeto Memórias Arquitetônicas de Três Corações, já deu um grande passo para sua concretização que é a aprovação da Lei Estadual de Incentivo a Cultura. O próximo passo é conseguir das empresas locais o apoio em patrocínios. Empresas que patrocinam projetos apoiados pela Lei de Incentivo agregam mais valores em seu histórico e uma relação mais próxima com a comunidade. Podem aplicar seu ICMS em projetos na própria comunidade, vendo de perto para onde seus impostos estão indo. Ainda adquirem maior visibilidade social, já que projetos assim têm um contato direto com a comunidade, proporcionando intensa divulgação do nome da empresa.

O projeto terá como material de divulgação inicial um site que será mantido com informações sobre o desenrolar das atividades, além de ser um veiculo de divulgação para as empresas patrocinadoras. A equipe espera dar continuidade ao trabalho no decorrer de 2010 e já estão buscando patrocínio junto às empresas locais.

Também fazem parte da equipe, o jornalista Paulo Morais, o historiador Caynã Prado Viana e o projetista Prhito Kariah. Recebe ainda o apoio de expoentes da cultura tricordiana como o músico e historiador Vitor Cunha, o Secretário de Cultura Valério Néder, o fotógrafo Sansão Bogarim e o projetista Mauricio Couto, este ultimo autor de várias construções históricas de Três Corações.

Para finalizar, Álvaro Jatobá lembra que: “Um povo sem memória, sem história é um povo sem raiz, sem base sólida, por tanto é facilmente manipulado.”

segunda-feira, 8 de março de 2010

Projeto Memórias Arquitetônicas de Três Corações quer sensibilizar comunidade

Se a cidade preservar sua arquitetura histórica, estará ficando presa ao passado? É possível chegar ao desenvolvimento sem perder de vista a identidade arquitetônica? O novo e o velho podem coexistir? Perguntas como esta embalaram a discussão que resultou no projeto Memórias Arquitetônicas de Três Corações, aprovado no edital 2009 da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e que, agora, está em fase de captação de recursos. O vídeo abaixo foi realizado para sensibilizar a comunidade e o empresariado local sobre a importância do projeto.





Muita gente ainda não consegue perceber a importância da preservação da arquitetura. Não por acaso vários casarões antigos estão sendo derrubados no centro da cidade ou ficam escondidos atrás dos outdoors de lojas de quinquilharias e eletrodomésticos. Embora Três Corações tenha uma rica arquitetura histórica, pouco é feito para preservá-la. No caso dos bens públicos, como os imóveis da Rede Ferroviária, a Ponte dos Boiadeiros e a Colônia Santa Fé, o completo abandono é a principal ameaça à preservação.

O projeto prevê a realização de uma ampla pesquisa documental e de história oral sobre a arquitetura local, envolvendo casarões e edifícios públicos. Será redigido um livro ilustrado que retrate a riqueza do patrimônio histórico tricordiano, mesclando o que ainda existe com o que já foi derrubado.