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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Benedita Cineclube de portas abertas em Cambuquira

Este fim de semana, estivemos em Cambuquira para conhecer o Benedita Cineclube, uma excelente iniciativa do pessoal da cidade das águas medicinais. Aprovado no edital Cine Mais Cultura, do Ministério da Cultura, o projeto conta com uma seleção generosa de filmes brasileiros consagrados, percorrendo desde o Cinema Novo de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos até a atual retomada. As apresentações acontecem todos os sábados às 16h e são uma boa opção inclusive para quem está em Três Corações, já que, do centro da cidade do Rei Pelé à porta do Cineclube, são apenas 18km.

O Cineclube funciona no Espaço Cultural Sinhá Prado, o mesmo local onde acontece a Mostra de Cinema e Audiovisual de Cambuquira (Mosca), que no próximo mês de julho chegará à sexta edição. Ali funcionava o antigo Cine Elite, daqueles cinemas que ficavam lotados nas cidades do interior antes da chegada da televisão. Com a modernidade, as salas de cinema entraram em crise. Nas capitais, só funcionam em shoppings e se revezam entre blockbusters americanos e subprodutos da indústria hollywoodiana, com algum espaço para as produções globais.

No interior, fecharam-se praticamente todas. Três Corações, por exemplo, já teve quatro salas, que deram lugar a igrejas ou lojas de eletrodomésticos. Outro dia, inclusive, chegou a notícia de que o gigantesco letreiro da loja Colombo, na praça da Escola Bueno Brandão, esconde a fachada do antigo Cine Santa Cecília, que era nos moldes do Cine Elite de Cambuquira. Coisas da modernidade, que nos brinda com a terrível poluição visual e suas feiúras publicitárias.


Em Cambuquira, o esforço pela democratização do acesso ao cinema brasileiro de qualidade nos brindou, neste fim de semana, com Macunaíma, do diretor Joaquim Pedro de Andrade. Baseado na obra do modernista Mário de Andrade, o filme traz uma leitura escrachada e bem humorada do herói brasileiro, nascido negro na selva e esbranquiçado miraculosamente quando se muda para a cidade. A sala não estava cheia, coisa comum em projetos culturais que buscam emplacar. Melhor do que oferecer um espetáculo superficial às massas é oferecer um produto de qualidade a quem busca se manter informado.

Chamou a atenção a qualidade da restauração, comandada pelo estúdio Trama. Parece que nem as exibições feitas nas tevês públicas tem tanta limpeza. Já o som não estava em tão boa qualidade e atrapalhava o entendimento em algumas partes. Coisas do cinema da década de 1960. Destaque da obra para as atuações caricaturais de Grande Otelo e Paulo José, interpretando o protagonista. O filme conta, também, com várias sacadas de roteiro e montagem, que deixam a gente à vontade para soltar boas risadas e agregam elementos das chanchadas à linguagem do Cinema Novo brasileiro.

Outro destaque é pela bela restauração do Cine Elite. Um espaço cultural com boa capacidade de público e estrutura para receber eventos. Tanto que Cambuquira foi escolhida pelo pessoal do Ponto de Cultura Filmes de Quintal, de Belo Horizonte, para sediar uma das mostras itinerantes do festival de documentários etnográficos ForumDocMG. Podem marcar na agenda: as apresentações acontecem nos dias 26 e 27 de junho.


Serviço
Benedita Cineclube
Espaço Cultural Sinhá Prado – Av. Virgílio de melo Franco, 481 – Cambuquira-MG
Apresentações aos sábados às 16h.
Confira aqui a programação.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Vencedores da 5ª Mosca 2009

Infelizmente não pudemos acompanhar toda a Mostra de Cinema de Cambuquira - a Mosca. Semana passada era o fechamento do Fundo Estadual de Cultura e estávamos enfurnados no processo de montagem do projeto que enviamos. No domingo, fomos conferir, Eu e Andressa, o último dia do evento. Ficamos com uma vontade de ter participado de tudo, pois os encontros foram bastante produtivos. Pelo menos, pudemos acompanhar a apresentação dos curtas premiados, o que já foi um alento. Eis os vencedores.

O anão que virou gigante


O vencedor da categoria Melhor Animação e Melhor Filme foi "O Anão que Virou Gigante", produção do animador Marão (imagem daqui). É uma história divertida que traz a frustração de um anão de 1,20m de altura, que não consegue chamar a atenção de ninguém e é desprezado por garçons, jornaleiros, mulheres e todo mundo a seu redor. Com um olhar crítico sobre os "diferentes", o personagem vai narrando as desventuras do dia-a-dia. De repente, já depois dos vinte anos, o simpático protagonista começa a crescer. Vai mudando sua visão de mundo, e tenta até resolver algumas injustiças que tinha percebido. Foi uma boa escolha. Vale a pena assistir.

Hiato




Vencedor da categoria Documentário, Hiato, mostra a manifestação pacífica de trabalhadores sem-teto do Rio de Janeiro, que aconteceu em agosto de 2000. A turma da periferia resolve conhecer um shopping center da zona sul carioca, o que causa estranheza de vendedores e da classe média. A imprensa compareceu para cobrir o manifesto, com certeza na expectativa de que houvesse algum confronto. No entanto, os visitantes só queriam ver as vitrines, experimentar roupas e sapatos, e comer pão com mortadela na praça de alimentação. Exercer o direito de ir e vir. Filmado sete anos após o acontecimento, o documentário repercute a iniciativa e discute a distância entre os pobres e o mundo de consumo da classe média-alta, com suas regras invisíveis de conduta, de aparência e de status. Confira a entrevista do diretor Vladimir Seixas para a revista Fórum.


Em uma tarde de abril em Cambuquira

Vencedor da categoria experimental. Realizado por Alexandre Félix, o vídeo traz de forma poética uma chamada geral na população da nostálgica Cambuquira. Ficar olhando o tempo passar, lembrando-se dos tempos áureos da cidade ou partir para a ação e dinamizar a cidade outra vez? Eis um questionamento que inquieta durante a exibição.

Bicho
Outro curta-metragem muito divertido, vencedor da categoria infantil. Dirigido por Vitor Brandt, conta a história do menino Carlos, que adora criar bichos de tudo quanto é tipo (galinha, grilos, calangos, lagartixas) dentro de casa. A mãe não aceita a mania do filho. Na escola, ele é alvo de perseguição pelos coleguinhas. Carlos, no entanto, se apega aos animais. Dá nomes de gente a eles, cria fantasias na sua cabeça. Vale a pena também conferir essa produção, que está disponível no sítio Porta-Curtas.

A exibição dos vencedores foi antecedida da apresentação dos trabalhos da oficina de produção audiovisual. O tema foi o telejornalismo e os participantes fizeram um belo trabalho relacionando a história de Cambuquira com fatos das décadas de 60, 70, 80 e dos dias atuais. Ainda não encontrei estes vídeos na rede, mas o pessoal da Mosca deve colocá-lo na rede. As produções dos anos anteriores podem ser conferidas no sítio da Mostra.

A sensação é de que eventos como o de Cambuquira estimulam a produção em todos os níveis - desde adolescentes que fazem coisas novas, até os mais velhos que voltam ao cinema para assistir filmes que tenham a nossa cara. A retomada do cinema brasileiro, potencializada pelas novas mídias, depende de projetos como este para dar certo.