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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Memórias Iluminadas: lançamento do livro dia 30


A cidade de Luminárias, no sul de Minas Gerais, vai ganhar um presente diferenciado neste fim de ano. No próximo dia 30 (terça-feira) será lançado o livro Memórias Iluminadas, que traz a história do município narrada pelos moradores mais antigos, sendo que os mil exemplares produzidos da obra serão distribuidos gratuitamente para a comunidade e para cidades vizinhas. Foram 26 idosos entrevistados pelo projeto, que teve início em fevereiro de 2007. Os quase dois anos de pesquisa foram uma parceria entre a Prefeitura de Luminárias e a ONG Viraminas, com patrocínio do BDMG (Banco de Desenvolvimento de Mians Gerais) e da Secretaria de Estado da Cultura, por meio do Fundo Estadual de Cultura.

No livro, que tem 264 páginas, cada morador entrevistado tem um capítulo, em que narra sua trajetória em Luminárias. Os idosos receberam de três a quatro visitas da equipe de pesquisa do Memórias Iluminadas, formada pela turismóloga Andressa Gonçalves e pelo jornalista Paulo Morais. Alguns deles moram em locais afastados, na zona rural, a cerca de 30 quilômetros da cidade. Foi comum também a abordagem de pessoas que não sabem ler e escrever, não frequentaram escola, mas apresentaram uma experiência de vida e uma visão de mundo de fazer inveja aos mais letrados.

Cada idoso que participou do projeto contou sua história de vida e narrou situações do cotidiano de tipicamente rural de antigamente. Modos de fazer tradicionais, como queijo, cachaça, rapadura, trançado de bambu e couro, por exemplo, foram alguns dos pontos mais abordados nas conversas. As lendas antigas também foram muito citadas, tais como a mula-sem-cabeça, o saci, a mulher de três metros e o cavalo de três patas. O folclore aparece também nos divertidos causos da roça, que dão o ar da graça em diversas páginas do livro.

A obra traz ainda fotografias de Sansão Bogarim, que acompanhou a última rodada de visitas aos idosos. Os exemplares começam a ser distribuídos gratuitamente para a comunidade e também serão doados a bibliotecas públicas do interior de Minas. Ele também será publicado na Internet em versão PDF, podendo ser acessado em qualquer parte do mundo nos sites da prefeitura de Luminárias (www.luminarias.tur.br) e da Viraminas (www.viraminas.org.br).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Começa segunda fase do projeto "Memórias Iluminadas"


Começa na próxima segunda-feira, 10 de dezembro, a segunda fase do projeto "Memórias Iluminadas: uma reconstrução participativa da identidade cultural de Luminárias", inciativa da Viraminas em parceria com a Prefeitura Municipal de Luminárias. O trabalho é financiado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e pelo Governo de Minas, por meio do Fundo Estadual de Cultura.

Na primeira fase, os pesquisadores entrevistaram 26 idosos da comunidade. Entre eles, Nagib Murad (foto), de 88 anos, testemunho vivo da imigração libanesa para o Brasil, que chegou em Luminárias aos três meses de idade e mantém praticamente intacta a mesma loja há 50 anos.

Cada um relatou, a seu modo, costumes, lendas, tradições e hábitos do cotidiano antigo da cidade. O trabalho será um importante registro da história de vida dessas pessoas e do patrimônio imaterial de Luminárias. Este será o primeiro registro do tipo no cidade, que tem 5.300 habitantes e fica na região Sul de Minas Gerais.

Nesta segunda fase, os entrevistados receberão novamente a visita dos pesquisadores, para confirmar os dados levantados e buscar novas informações. As conversas serão editadas e publicadas em livro. Será produzida ainda uma coleção de cartilhas para estudantes do primário, com temas ligados ao patrimônio imaterial, tais como artes e ofícios, lendas, causos, festas tradicionais e personagens típicos.

O objetivo da coleção de cartilhas não será transmitir um conhecimento engessado aos estudantes, mas sim motivar os professores da comunidade a ampliar os horizontes do ensino, buscando integrar o ambiente escolar com o mundo externo. O projeto Memórias Iluminadas é amparado legalmente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pelo Estatuto do Idoso e tem ainda como base a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, documento publicado em 2003 pela Unesco.

terça-feira, 24 de julho de 2007

A memória de Luminárias


Sabe aquelas histórias que o vô da gente conta quando os primos estão reunidos? Os casos, ou causos, na linguagem popular, que os mais velhos contam são recheados de boas histórias, personagens, lendas e outros detalhes que só os mais experientes conheceram e que despertam a curiosidade de qualquer um.

Pode até não parecer, mas histórias simples do dia-a-dia contadas pelos mais velhos conseguem, quando reunidas, contar a história de um local, de uma cidade ou mesmo de uma região.


E são esses causos que foram catalogados na primeira fase do projeto Memórias Iluminadas, executada em Luminárias entre fevereiro e maio deste ano. Foram entrevistados 25 personalidades da cidade, todos nascidos entre 1911 e 1939. Alguns foram entrevistados juntos, como no caso dos irmãos Abigail e Jair e dos casais Nagib e Dalva e Antônio e Júlia (foto).


Há relatos de tudo quanto é tipo. O padre Waldyr, por exemplo conta tudo sobre a religião. O ex-carapina (espécie de carpinteiro) Oliveira conta as histórias do tempo em que essa profissão ainda existia. Seu Geraldo Neco (foto), no auge dos seus 96 anos, tomou sua cachacinha diária para contar histórias do tempo em que trabalhava tirando pedra com marreta das pedreiras da cidade. Seu Zé do Sílvio conta os causos divertidos dos mutirões de limpar roça. Seu Clece e seu Bibe dão versões políticas aos fatos que marcaram a cidade. Seu Toninho lembra dos tempos em que a mãe tinha a única pensão da cidade.


E assim vai indo. Seu João Oscar conta dos caçadores de veados, dona Iolanda Melo lembra das luzes na serra, seu Valdemar disserta sobre os curadores e raizeiros que tinha na cidade, dona Lucy (foto) fala da época das quadrilhas e das rodas de cavaquinho lotadas no quintal de casa.


Todos esses e vários e vários e vários outros causos estarão no livro Memórias Iluminadas, uma leitura da história de Luminárias contada pelos moradores mais antigos do município. Os entrevistados foram indicados pelos próprios moradores da comunidade. Será deles a chance de contar o que aconteceu na cidade de modo livre, divertido e sem amarras.


Um exemplo, só para degustação, com o trecho da entrevista do seu Zé do Sílvio:


Mentiroso aqui tinha. O grandioso foi o Zé Almeida. Ele levava queijo de fábrica no cargueiro daqui pra Estação de Carrancas. O Zé Almeida fez o seu Abílio, que morava perto da estação de Carrancas, sair de lá pra vir no enterro do seu Manoel Furtado aqui em Luminárias. E, ao mesmo tempo, fez o seu Manoel sair pra ir no enterro do seu Abílio. Os dois homem encontraram no meio do caminho. Ele passou na fazenda do seu Abílio e falou pra ele:
- Ó, o Seu Manoel Furtado morreu, o enterro é lá em Luminárias tantas horas.
E tocou e veio depressa, passou na fazenda do Seu Manoel e falou:
- Ó, o seu Abílio morreu e o enterro é em Carrancas tantas horas.
Os dois veio e pegou o cavalo e encontraram no meio do caminho. Eu acho que avistaram de longe, mas como se diz, eles logo desconfiaram porque o histórico do Zé Almeida ia longe!


O projeto foi inscrito no Fundo Estadual de Cultura. O resultado sai em meados de agosto. Será publicado o livro de causos, que estará disponível também na internet. Quem se interessou, agora é só esperar.